quarta-feira, 2 de agosto de 2023

"Nada por mim": relatos de autoconhecimento no repertório musical

Em outubro do ano 2022 publiquei um primeiro vídeo de repertório musical em um canal no YouTube, cantando e tocando a música "Nada por mim" do compositor Renato Russo (no final deste texto tem o link do vídeo). Após alguns meses realizando postagens no Canal GizaLAB comecei a perceber que o repertório musical que eu estava criando ao longo do meu curso particular de violão estava totalmente associado ao meu processo de autoconhecimento e que nada estava sendo feito sem compreensão de conceito ou sem conexões reais. Eu percebia o quanto as escolhas de músicas estavam sendo intuitivas e eram baseadas em sentimentos que estavam muito presentes em situações que eu realmente vivi e ainda me incomodavam (ou ainda estava vivendo). Então percebi que os estudos musicais, de uma forma indireta, estavam produzindo em mim um processo de autocura conceitual, a partir da interpretação consciente de cada obra musical. Não apenas no sentido técnico do que é tocar os acordes no violão, o tempo da música e o tom do canto, mas também há um processo reflexivo de empoderamento pessoal sobre o que me incomodava na minha existência, temas que inclusive me faziam sofrer, estavam sendo trabalhados enquanto eu estudava a minha voz e a técnica com o violão. A música “Nada por mim” veio para a minha estante de cifras em uma tarde quando eu estava lavando louças na cozinha, após uma conversa difícil com uma pessoa que, a grosso modo, me jogava na cara, o quanto tinha feito coisas por mim e que por isso não realizou suas próprias coisas. Eu lembrava que aquela pessoa ficou ao meu lado durante alguns anos e nosso relacionamento não foi satisfatório para ambas as partes. Quando o relacionamento terminou a pessoa me fez cobranças afetivas e materiais (indenização). Porém, veja que não era uma prestação de serviços, era uma proposta de relacionamento amoroso e as cobranças poderiam ser feitas por mim também, mas eu preferi cuidar de aprender a tocar violão ( escolhas da vida). Naquela tarde de outubro de 2022 eu lavava a louça e cantava as palavras: “você me tem fácil demais e não parece capaz de cuidar do que possui, você sorriu e me propôs que eu te deixasse em paz, me disse vai e eu não fui”. Este trecho me fez buscar na memória o início daquele relacionamento “amoroso” e me dei conta de que após um primeiro encontro casual aquela pessoa não me dava atenção, me viu no dia seguinte no hall de entrada da universidade (onde estudávamos) e nem sequer falou comigo. Lembrei que mesmo após isso ter acontecido, após alguns anos, aquela pessoa lembrou de mim e eu a aceitei na minha vida. Depois de ter sido rejeitada anos atrás, eu recebi a pessoa de braços abertos quando finalmente a pessoa me quis.Então, o trecho inicial da música “nada por mim” me mostrou logo ali, de cara, me jogou contra a parede e me disse o quanto aquele relacionamento não-satisfatório já tinha dado errado antes mesmo de iniciar e eu nem ao menos era capaz de perceber isso naquela época. Você já deve ter escutado a expressão “as pessoas dão sinais”... Bem, era sobre isso e eu não fui capaz de perceber lá no passado. E também dizem que a juventude é imatura, mas quando a gente é jovem a gente tem muita força bruta e pouca força reflexiva. Tudo parece ser importante, pois se não experimentarmos a vida (quebrando a cara com nossas escolhas), qual reflexão teremos a fazer na vida adulta, não é mesmo? Continuo considerando linda a força juvenil assim como a beleza da reflexão amadurecida pelas experiências vividas. No recente outubro, continuei lavando a louça e cantando: “você me diz o que fazer e não procura entender que eu faço só pra te agradar. Me diz até o que vestir, com quem andar e aonde ir [...]”. Continuo aprendendo com a música… Os pensamentos sobre um relacionamento anterior que não deu certo sempre parecem ser assim, concluindo uma enorme perda de tempo, não é mesmo? É comum os casais se inspirarem um no outro, viver em comunidade tem disso, porém alguns relacionamentos se tornam tóxicos nesse aspecto, quando ambas as partes (ou uma das partes) passam a ditar regras um ao outro e eu gostaria de cantar essa música sempre lembrando de refletir sobre meus relacionamentos com as pessoas que amei, as que amo e as que ainda irão fazer parte da minha existência. Que em primeiro lugar eu seja crítica sobre até onde posso ir para não me tornar tóxica e até onde eu posso deixar as pessoas irem na minha vida a fim de não deixar que toxicidade faça parte da minha história de vida daqui para frente. Dar opiniões às pessoas sobre o que vestir, com quem andar e aonde ir pode ser perigoso, mas antes de tudo devemos saber também o que devemos aceitar das pessoas em nossa vida. Algumas pessoas se mostram tóxicas quando oferecem ajuda voluntária ou afeto e isso se dá muito entre aspas quando o oferecimento é seguido por ordens, verdades absolutas, desejos unilaterais e se forma uma relação de poder e não de amor recíproco. Contudo observo que essa reflexão se torna cada vez mais construtiva para mim, quando eu retiro do outro a total responsabilidade daquela relação não ter dado certo e trago também para mim a responsabilidade. Afinal, nós permanecemos em relacionamentos ruins porque somos incapazes de perceber que não está sendo bom, ou porque deixamos que façam conosco o que quiserem fazer, ou porque não temos autonomia necessária para entrar em um relacionamento sem dependências materiais e emocionais (e isto pode ser assunto reflexivo para outra música já postada no repertório do canal GizaLAB). Reflexões no sentido do crescimento interpessoal e não no sentido de me vitimizar e reclamar da vida. Observe que tudo realmente coopera para o bem de quem aprende com as experiências e assume suas responsabilidades. Bem, vamos cantar: “não faça assim, não faça nada por mim, não vá pensando que sou seu”. Observe o quanto é importante olhar para os relacionamentos que não deram certo com um olhar crítico e nos colocarmos como aprendizes na vida pode ser mais essencial do que nos colocarmos em relacionamentos aleatórios, apenas pelo fato de acreditarmos que não é bom estar solitário. Na maioria das vezes, mesmo sem relacionamento amoroso, a vida não é solitária, apenas estamos carentes e precisamos de psicólogo/a (ou arteterapia). Tocar e cantar essa música, para mim, é um baita aprendizado e exercício de memória para a vida. Que as relações conturbadas da tão falada “modernidade líquida” não consigam engolir nossa vontade de viver e que você e eu encontremos sempre um jeito criativo para iluminar situações complexas nessa difícil jornada que é ser humano. Você já pensou em incluir um aprendizado artístico no seu processo de autoconhecimento? Você quer fazer mudanças para melhorar sua qualidade de vida e não sabe por onde começar? Tem medo de fracassar e se sentir sozinho(a)? Me conte nos comentários aqui ou ali. Estou no blogger, no instagram, no youtube e em encontros virtuais agendados via Google Meet. A gente se vê! Que a música esteja com você também!